VOEZ

Análise por Diogo Ribeiro

VOEZ é um daqueles jogos que me suscita uma relação de amor-ódio em constante mudança. Lançado a partir do primeiro dia na Nintendo Switch, integrou a sua biblioteca de jogos como jogo exclusivo do modo portátil, servindo-se das funcionalidades do visor táctil da mesma. Até à data, não existe forma de interagir com o jogo em modo televisão, o que pode afastar alguns utilizadores. Dá-me alguma pena esta limitação, pois basta vermos o vídeo de introdução no grande ecrã para termos vontade de continuar a interagir com o jogo em alta definição. Ainda para mais, graficamente é um jogo muito bonito, com visuais muito suaves e agradáveis, num estilo de manga tradicional. Ainda assim, a meu entender, a grande força deste título passa pela jogabilidade, num dos géneros mais famosos na Terra do Sol Nascente: ritmo/ música.


Para os amantes do género, é um jogo que funciona quase intuitivamente: pequenos botões vão descendo pelo ecrã, sendo que temos apenas que os percutir, arrastar ou até manter premidos ao ritmo da música. Estas mecânicas são introduzidas através de um pequeno vídeo explicativo, logo que selecionamos a primeira música. Contudo, nenhuma outra interacção ou de mecânicas de jogo é explicada: no menu de selecção das músicas podemos ajustar a velocidade de queda dos botões e também adicionar um ‘feedback’ sonoro de quando os percutimos, de forma a sermos mais precisos. Uma das grandes falhas de VOEZ em termos de jogabilidade é no entanto a interpretação desses botões associados à música que estamos a ouvir/ jogar. Nem sempre é intuitivo: estou a acompanhar a secção melódica ou a secção rítmica? Ou ambas em simultâneo? Não há sequer nenhum indicativo das mudanças de uma coisa para outra, o que poderia ser resolvido com uma simples mudança nos botões (com diferentes cores, por exemplo) para demonstrar as várias camadas da música que estamos a jogar. Por vezes é também difícil de compreender se alguns botões que descem em simultâneo se encontram ao mesmo nível horizontal ou não, o que impede de uma forma clara atingir as notas no ritmo exacto.

Devido a estas falhas, VOEZ pode tornar-se ainda mais difícil nos níveis muito altos: frustrantemente difícil. A profusão de botões aliados a uma velocidade de queda muito alta (que pode ser ajustada, até certo ponto) torna este título um dos mais difíceis do género. Quem sabe, O mais difícil. Dificuldade essa que está associada a um fraco sistema de recompensas: à medida que vamos passando os vários níveis nas várias dificuldades (“Easy, Hard, Special”), o jogo vai desbloqueando vários gashapons (que nos recompensam com ícones de avatar meramente decorativos) e secções de história do jogo. Sim, porque o jogo possui história, a qual no início não é dada qualquer contexto. Na secção intitulada “Diary”, várias cartas, secções de diário, fotografias dos locais, ou até tweets dos vários protagonistas vão sendo desbloqueados, por vezes sem uma ligação aparente entre eles. Confesso que a história não me pareceu muito interessante, e no início torna-se algo difícil perceber o que realmente se passa no enredo. VOEZ ganharia muitos pontos se, ao invés de desbloquearmos apenas estas pequenas “janelas” para a vida dos personagens, porque não secções animadas, em estilo anime, que dessem um pouco mais de dinâmica à história.


Como em qualquer jogo de ritmo/ música o importante são as faixas e canções escolhidas para o jogo. Os géneros são variados: música trance, electrónica, pop, neo-clássica, banda sonora, 8-bit, etc., sendo que os vários compositores provêem exclusivamente de países asiáticos. A qualidade musical em algumas canções por vezes pode deixar a desejar, quer artisticamente, quer tecnicamente, já que na grande maioria se tratam de compositores independentes, cujos meios de produção musical passam por sons com fraca qualidade em alguns casos (sons “midi” por exemplo). É mais valia no entanto que estas estão muito bem integradas na dinâmica do jogo, com uma “dança” dos botões a acompanhar o passar da música. Muito bom tem sido também o constante suporte por parte dos criadores na Rayark Games, contando já com duas actualizações desde a saída do jogo, fazendo um total de 146 canções por onde escolher.

VOEZ é um bom jogo, e uma boa adaptação da sua versão para android. Executa bem a sua função: ser jogado ocasionalmente, no modo portátil, quando estamos fora de casa e precisamos passar algum tempo livre. Claramente tem como alvo a utilização de apenas metade das funções da híbrida Switch, e trata-se de um título de ocasião, para jogar esporadicamente. Para quem gosta do tipo de música produzido na Ásia, com um grande ênfase nos géneros pop e electrónica, e uma dificuldade acima da média, tem um jogo que durará bastantes horas. Por vezes os níveis de dificuldade mais altos podem tornar o jogo um pouco frustrante, mas devido à sua apresentação bem conseguida e algumas músicas mais aliciantes, é um título a que acabamos sempre por voltar.


Com o preço de 20,99€ e com as constantes actualizações e a sua centena e meia de canções, temos uma boa relação de conteúdo/preço, e para os mais indecisos está já disponível uma versão demo na Nintendo eShop com 3 faixas de demonstração para experimentar.

Atualização - 13/12/2018: Muitas foram as actualizações que este jogo recebeu, o que torna desactualizada a revisão em alguns pontos. VOEZ recebeu ainda mais conteúdo (são mais de 170 faixas), e, como foi pedido pelos fãs durante algum tempo, tem agora forma de jogar com comandos e botões na sua versão para a Nintendo Switch, o que permite finalmente usufruir do jogo em modo TV, e retira a sua limitação na forma de jogar exclusivamente portátil. Estes novos controlos facilitam um pouco a forma de jogar em algumas faixas mais difíceis, mas ainda assim o jogo possui uma dificuldade elevada que será necessário practicar bastante em algumas delas. Foi também adicionada uma forma de organizar as músicas consoante a actualização em que foram adicionadas. Tudo o resto permanece inalterado.


Nota: Esta análise foi efetuada com base numa cópia do jogo para a Nintendo Switch adquirida pelo autor do artigo na eShop.

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