Splatoon 2
Quando foi anunciado em 2014, Splatoon foi o centro das atenções, não tanto por ser uma nova franquia da Nintendo, mas por ser uma incursão por um género onde a companhia não tinha uma presença significativa. Um ano depois, rapidamente se tornou um dos maiores sucessos da Wii U, especialmente no Japão. Não foi, por isso, uma surpresa que a empresa quisesse trazer o jogo à Nintendo Switch logo no início da vida da nova consola. Foi uma surpresa, sim, que o quisesse fazer através de uma sequela e não de uma mera adaptação, com nova história e modos de jogo, além de novas armas, cenários e gráficos melhorados. Mas terá Splatoon 2 conseguido manter a frescura do jogo anterior?
Num futuro distante onde a humanidade já não parece viver neste planeta, as lulas evoluíram para uma espécie chamada de Inklings, com uma extraordinária capacidade de alterar a sua forma física entre o aspecto antropomórifico e o de uma lula em meros milissegundos! Há dois anos que o Laboratório de Investigação de Moluscos tem partilhado as suas descobertas em relação a estas fascinantes criaturas viciadas em tinta, música e moda. O desporto mais popular entre os Inklings é conhecido como Turf War, um combate de equipas onde, durante três minutos, tentam conquistar o território marcando-o com a tinta da sua cor.
Passaram dois anos desde os eventos de Splatoon, mas a popularidade do Turf War continua em altas! Este é, sem um salpico de dúvidas, o principal modo de jogo em Splatoon 2 e o primeiro destino a visitar por qualquer jogador com um acesso à internet. É um desporto competitivo, mas acessível a qualquer principiante e cuja diversão se mantém fresca a cada nova partida. Sendo um jogo de tiros por equipa, muitos irão apressar-se em chegar ao meio para eliminar os adversários, mas de nada isso irá servir se não se focarem no objetivo principal: pintar a maior área possível da arena com a cor da respetiva equipa!
Eliminar um adversário irá mandá-lo de volta para a sua base, permitindo assim ganhar terreno. No entanto, há muitas estratégias para a vitória, incluindo tentar passar despercebido pela linha de fogo e começar a pintar as zonas que os inimigos não estão a vigiar. É importante ir olhando para o mapa e ver as áreas que estão a precisar de atenção. Há uma grande variedade de armas para experimentar, adequadas aos diferentes estilos de jogo de cada um, e ainda mais para desbloquear à medida que se ganha pontos e dinheiro a jogar.
O que mudou, então, em relação ao jogo anterior? Além das novas armas, as existentes foram reajustadas com novas caraterísticas e nova jogabilidade. Por exemplo, os populares "Rollers", rolos de tinta que cobrem uma grande área, podem agora lançar tinta na vertical, para um avanço mais rápido ou atingir alvos distantes. Já as novas "Dualies" podem não ser as melhores para pintar, mas são eficazes para combater inimigos a curta distância e permitem ao jogador desviar-se em qualquer direção. Por outro lado, os ataques especiais foram todos substituídos em relação ao primeiro jogo, podendo dizer-se que são bem mais interessantes de um ponto de vista competitivo, seja o jetpack que permite lançar ataques poderosos enquanto se voa pela arena (mas deixando o jogador exposto) ou a nuvem de chuva de tinta que irá afectar uma larga área e assim afugentar os adversários.
Com estas alterações, percebe-se que a Nintendo entendeu a natureza competitiva do jogo e apostou numa jogabilidade mais estratégica, sem prejudicar a simplicidade que faz do modo Turf War acessível tanto aos mais dedicados como a qualquer jogador que apenas se queira divertir. Chegando ao nível 10, os mais competitivos poderão então aceder ao modo Ranked, onde poderão combater em batalhas de "Splat Zones", "Tower Control" e "Rainmaker". Em Splat Zones, a batalha restringe-se a áreas delimitadas na arena que a equipa deverá pintar e manter até ao fim do contador de tempo. Já em Tower Control, o favorito do escriba, um jogador da equipa terá de ocupar o topo de uma torre para a movimentar até à base do inimigo, enquanto os companheiros defendem a torre - de certa forma, equiparável ao "payload" do jogo Overwatch, lançado em 2016. Finalmente, o Rainmaker requer que um jogador carregue um token até à base inimiga enquanto os companheiros o protegem e é o mais difícil dos três jogos.
As batalhas Ranked rodam a cada duas horas e cada uma terá o seu próprio rank, permitindo ao jogador saber em qual é mais proficiente. Só os melhores destes terão acesso ao modo League Battle, que permite formar equipas de 2 ou 4 amigos para, durante duas horas, testarem a sua habilidade na competição. Poderá ser a melhor forma de treinar para torneios e outras competições no mundo dos eSports, mas durante o período desta análise não foi possível testar este processo.
O matchmaking, tal como no primeiro jogo, reúne 8 jogadores no lobby e sorteia, a cada partida, a formação das duas equipas. Embora o servidor tente colocar o jogador num grupo onde se encontrem amigos a jogar, a maioria dos oponentes serão desconhecidos. No entanto, também é possível criar um grupo para jogar com amigos e efectuar batalhas privadas ou, como referido anteriormente, participar no modo League Battle. Nas batalhas privadas, será possível adicionar dois não-jogadores em modo Spectator, algo particularmente útil para quem quiser organizar torneios ou fazer uma transmissão do combate. Haverá também o Online Lobby associado à aplicação Nintendo Switch Online (disponível no dia de lançamento), que permitirá organizar as partidas, mas não houve possibilidade de o testar nesta fase.
Em modo local, será possível conectar até 8 consolas via wireless para jogar livremente nos modos Turf War, Ranked Battle e no novo Salmon Run, do qual falaremos adiante. Esta é uma das grandes novidades do jogo, pois permite jogar livremente em qualquer lado com um grupo de amigos, mas abre também muitas possibilidades a quem queira organizar torneios com poucos recursos - "tragam a vossa consola". Naturalmente, cada jogador irá necessitar de ter o seu equipamento e uma cópia do jogo mas, se a popularidade do anterior for indicador de alguma coisa, não deverá ser difícil encontrar quem tenha Splatoon 2 no grupo de amigos que jogam Nintendo Switch.
De regresso do primeiro jogo estão também as Splatfests. Estes são eventos online que o transformam numa grande festa, onde a comunidade se divide em duas equipas de acordo com um tema, como por exemplo a melhor sobremesa: bolo ou gelado? Durante as Splatfests, há tintas de cores especiais com efeito néon, banda sonora diferente e um concerto das Off The Hook, as novas pop-stars em voga após o desaparecimento das Squid Sisters. Estes eventos permitem aceder a recompensas exclusivas sob a forma de ouriços do mar, que poderão ser trocados para melhorar as habilidades do equipamento, pelo que se tornam bastante atrativos para os jogadores.
Splatoon não é só um jogo de competição. Não é, sequer, apenas um jogo multijogador. Tal como acontecia no título original, Splatoon 2 inclui um excelente modo de campanha para um jogador, que peca apenas pela curta duração. A história do Hero Mode passa-se dois anos depois dos acontecimentos no final do título anterior. O Great Zapfish voltou a desaparecer, na mesma altura em que Callie, uma das Squid Sisters, também desapareceu sem deixar rasto. É fácil de perceber onde é que isto vai parar, mas claramente a narrativa não é aqui o foco, mas sim a jogabilidade e a aprendizagem das diferentes armas e mecânicas do jogo. Não é um mero tutorial, no entanto.
Existem cinco áreas para explorar, todas elas com diversos níveis para encontrar. Para avançar no jogo, será preciso encontrar todos os níveis, enfrentar o boss e passar para a área seguinte até ao boss final, numa sequência que irá durar umas 5 a 6 horas de jogo. À medida que se vai avançando, o fabricante de armas Sheldon irá determinar qual a arma que se deve utilizar em cada nível. Uma questão de pesquisa, diz ele. Passado o nível, será possível repeti-lo com qualquer outra arma que se tenha entretanto desbloqueado, o que em alguns casos pode mudar drasticamente a experiência e dificuldade, mas também irá permitir aprofundar a técnica com os diversos equipamentos. Isto dá um grande valor de rejogabilidade a este modo, especialmente para os obcecados em fazer tudo o que há para fazer no jogo.
Falando dos níveis em si, têm uma estrutura muito semelhante à do jogo Super Mario Galaxy (Wii), constituídos por pequenas plataformas flutuantes que apresentam desafios dedicados a um tema e com dificuldade crescente até se alcançar o objetivo. Todos os níveis são diferentes e oferecem algo completamente novo, seja uma nova mecânica ou inimigo ou uma variação de algo já conhecido com uma reviravolta qualquer. Há sempre uma descoberta, mas é uma pena que não tenham feito conteúdo mais extenso - certamente os fãs iriam perdoar alguns níveis menos originais no meio de tanta criatividade demonstrada.
Finalmente, e aqui sim falamos da maior novidade de Splatoon 2, surge o modo Salmon Run. Este é um modo cooperativo para até 4 jogadores, que pode ser jogado localmente com amigos ou em modo online em ocasiões específicas. à semelhança das Splatfests. A empresa Grizzco está a recrutar Inklings para um trabalho que é sujo, mas alguém tem de o fazer: erradicar vagas de salmões mutantes que regressam ao seu local de origem para desovar. É precisamente essas ovas que a companhia pretende obter em troca de boas recompensas, mas sem nunca revelar para que as quer.
A equipa é levada para o local da infestação e terá de reunir uma quota mínima de Golden Eggs, recolhidos dos Salmon Bosses para que a missão tenha sucesso. Este é um modo frenético onde se torna importante o trabalho de equipa, pois os salmões podem surgir de qualquer lado e, por vezes, em quantidades aterradoras. Cumprida a quota de ovos, será necessário sobreviver até ao final da vaga e, se todos os jogadores forem eliminados, está tudo acabado. É, por isso, importante que os jogadores se mantenham atentos aos pedidos de ajuda de companheiros que possam ter caído em combate, para os trazer de volta à vida com a tinta.
Tendo participado no primeiro evento de Salmon Run, foi possível notar algumas falhas a afinar em futuras atualizações. Acontece que, à medida que se vai cumprindo os objetivos, os jogadores vão sendo promovidos para receber melhores recompensas e missões mais difíceis. No entanto, a dificuldade não escala bem conforme o número de jogadores, pelo que uma equipa de 3 ou 4 poderá desenvencilhar-se com algum jeitinho, uma de 2 terá imensa dificuldade em cumprir a missão, sendo que um jogador solitário irá apenas encontrar um inferno de salmões, sem ninguém para o ajudar. A jogar em modo local, a dificuldade é ajustável, pelo que isto deixa de ser um problema.
Dificuldades à parte, este é um modo divertido e frenético, uma adição muito bem-vinda ao universo de Splatoon. Não se conhece ainda a frequência com que irá ser disponibilizado online, mas certamente dependerá da adesão dos jogadores. O sistema de matchmaking procura jogadores com o mesmo nível de pagamento, pelo que os de escalões mais elevados poderão ter dificuldade em formar equipas online se estiver pouca gente a jogar. Pode ter sido esta a razão para optar pelo formato evento em vez de simplesmente disponibilizar este modo de forma permanente. Importante relembrar, no entanto, que em modo local o Salmon Run está sempre disponível.
Splatoon 2 é uma sequela segura, construída em cima do sucesso de Splatoon na Wii U e capitalizando no facto dessa ter sido uma consola com poucas vendas. Para muitos jogadores, este será o seu primeiro Splatoon. Já os restantes terão muito com que se alegrar nesta sequela, mas naturalmente não sentirão a inovação encontrada no seu primeiro contacto com a série. O que irão sentir é uma melhoria na jogabilidade, combates mais competitivos e um modo campanha mais robusto. Também os gráficos foram melhorados, não só com mais detalhe nos personagens e cenários mas também com efeitos de tinta mais realistas. A banda sonora continua excelente, agora com novos temas das Off the Hook e outras bandas (fictícias) do mundo de Splatoon, embora repescando alguns dos melhores temas do jogo anterior.
Resta dizer que está previsto um ano de atualizações gratuitas, com a introdução gradual de melhorias e novidades, incluindo armas e cenários. Já as Splatfests estão prometidas durante dois anos após o lançamento do jogo.
Este título oferece um pouco de tudo para quase todos os gostos. De fora, fica quem gosta de tons cinzentos, pois dificilmente se irá encontrar experiência mais vibrante e colorida do que em Splatoon 2. A sensação de querer "mais uma partida" é uma constante, mas é também um jogo adequado para aqueles momentos em que temos pouco tempo livre mas queremos fazer uma ou duas partidas apenas. Um título obrigatório para quem procura uma grande experiência multijogador na Nintendo Switch. Super fresco!
Nota: Esta análise foi efetuada com base em código final do jogo para a Nintendo Switch, gentilmente cedido pela Nintendo.