Donkey Kong Bananza


Agora que a Nintendo Switch 2 já anda por aí, um dos títulos que marcou o grande anúncio da consola foi Donkey Kong Bananza. Apresentando-se como uma das grandes apostas de lançamento da nova consola da Nintendo, foi um jogo que chamou logo à atenção de muitos por ser um novo jogo de plataformas por parte da companhia que mais contribuiu para o género. Honestamente a minha primeira reação com o jogo quando o experimentei em Paris foi positiva, mas nada por aí além, sendo que seria o Nintendo Direct dedicado ao jogo que me apresentava ali um produto final, bem diferente do que havia experimentado!


Donkey Kong Bananza é uma grande aventura, um jogo de plataformas tradicional recheado com uma boa pitada de ação, onde as nossas armas são os punhos e força bruta de DK. O objetivo é mais que claro, é-nos indicada uma direção e temos de arranjar maneira de ir lá ter, seja por que meio for e enfrentando os desafios que hão de surgir até lá. Há nele muito do toque mágico que tivemos em Super Mario Odyssey ou até em ambos os Super Mario Galaxy, das coloridas e animadas personagens aos desenhos e estilos de cada nível, cheios de pequenos detalhes e surpresas ao virar de cada pedaço de rocha que nos barra o caminho. Os visuais detalhados, coloridos, aliados à promessa que podemos partir tudo à nossa interessava-me (e muito!), até porque estes últimos anos tenho tido uma grande experiência através de jogos de plataformas, algo que me deixa bem feliz! Neste jogo vi potencial para ser aquele que cumpria essa quota auto-imposta para 2025.

Acompanhamos DK num dia completamente banal enquanto escavava uma mina, à procura de… bem, bananas! Não é muito explorado como foi ele parar lá, mas, estava no local certo à hora exata para arrancar em mais uma aventura, nesta que é mais especial do que pode parecer. Já há muito que não temos um grande jogo com DK e companhia, com os seus últimos grandes títulos surgiram na Nintendo Switch através de remasters de jogos lançados na Nintendo Wii e Nintendo Wii U. Ainda assim, esta é uma aventura que vai muito mais atrás no tempo, bem diferente dos Country Returns e mais próximo de Donkey Kong 64, o clássico da Rare lançado no final da década de 90. É nas personagens que via ali algo muito familiar, naquele estilo até mesmo "grotesco" e exagerado que via nos jogos da Rare de então, onde os enormes olhos saltavam das órbitas e as personagens desproporcionais pareciam ter movimentos meio toscos. Tudo coisas que acompanham bem o novo design de DK, bem mais expressivo que parece ter descoberto todo um leque de emoções, e expressões, neste jogo.


Falando na Rare, os fãs que têm andado desolados com as mais recentes atualizações da vida da equipa / companhia, têm aqui algo a considerar. Donkey Kong Bananza é um autêntico collect-a-thon, jogos onde temos todo um conjunto de coletáveis para apanhar em todo o lado, tornando a experiência numa grande caça ao tesouro. Além das muitas bananas a apanhar (vão ouvir mesmo muitas vezes “Oooh, banana!”) temos muito “ouro” e pedaços de banana, diferentes fósseis, mapas de tesouro e outros itens que nos ajudam na aventura. Bem, na realidade muito faz tudo parte do místico material dourado que é Banândio, que alimentam a forte caça ao tesouro que temos jogo fora com um destino em mente: o Núcleo do Planeta. E, falando ainda de outro clássico dos jogos de plataformas que a Rare trouxe ao mundo, juro que há ali algo que me parece uma referência. Juro.

Até lá… há que destruir tudo o que nos apareça pela frente! Seja escavar montes dentro e encontrar cavernas lá escondidas, abrir buracos no chão até não poder mais, destruir tudo o que é rochedo, usar os materiais para chegar a determinadas partes dos níveis, que são muitos, mesmo quando podemos escalar grande parte dos cenários há muitas partes inalcançáveis. Não há propriamente um desafio aterrador, é uma aventura por vezes até demasiado tranquila, acompanhada pelo sentimento de aventura cada vez que chegamos a um novo bioma sempre que nos aproximamos mais do Núcleo do Planeta. O que é peculiar é que, em momento algum, sentimos que estamos no subsolo, enquanto atravessamos florestas densas, montanhas geladas ou grandes desertos, entre locais memoráveis. Cada novo local introduz-nos novas personagens e habitantes do submundo, sendo que nos cruzamos com uns quantos rostos familiares!


Acompanhando DK nesta aventura temos Pauline, numa versão bem mais jovem a que estamos habituados, que se vê atirada para o meio da confusão com um único objetivo em mente: voltar à superfície e regressar a casa. A história centra-se muito nela também, os inimigos querem-na presa e receiam o seu poder, a sua vontade de cantar e o medo de o fazer perante uma plateia é algo que ela terá de superar no decorrer da aventura. Vi aqui finalmente um bom desenvolvimento de Pauline, bem mais do que quando veste o papel de presidente, o que dá uma personalidade bem interessante a uma personagem que passou décadas esquecida, que tem vindo a receber um bem merecido protagonismo nos últimos anos. Se há algo que o jogo brilha é ele ser uma espécie de musical, com imensas músicas viciantes em todos os momentos, muitas músicas icónicas da série que acompanham bem as novas, dando muita vida ao jogo e mais um colecionável a obter, os vinis que compõem a banda sonora.

Pauline é também a voz da nossa aventura, reage a tudo o que nos aparece à frente, fala sempre para DK sem que este dê uma resposta além de um ou outro grunhido e sempre que há momentos de história, a par da língua inventada de tudo o que é personagem e vilões, Pauline tem voice acting em todas as suas falas. Senti aqui que se perdeu uma oportunidade de ouro, pois o jogo está todo localizado em português do Brasil até nas vozes, mas, nada em português de Portugal. Tentei, mas não conseguia lidar com Pauline dizer constantemente “Dê Cá”, por isso, desculpa Pauline do Brasil! Ainda assim é um passo positivo quando comparado com Super Mario Odyssey, pois sempre tem uma escolha em português.


Falando na Pauline, além de ser a nossa guia que nos indica o caminho através da música e de assobios do DK, um segundo jogador pode usar a voz dela para lançar projéteis vocais, atacando inimigos e destruindo terreno. Um jogo que suporta o GameShare para que possamos jogar com mais alguém online, com apenas uma cópia do jogo, algo que infelizmente não pude experimentar durante esta análise. Os controlos de Pauline com o rato é uma adição interessante, que juntamente com o modo de esculpir e pintar figuras no ecrã inicial lembrou-me da pequena interação com Mario em Super Mario 64, advertindo que há um potencial de figuras “peculiares” esculpidas pelos jogadores neste modo, pois há mesmo muita liberdade para as nossas criações!

OIhando para a grande aventura de estreia de Mario na Nintendo Switch em 2017, muito se especulou se a presença de uma Pauline jovem tornaria este jogo numa prequela de Super Mario Odyssey, que sem dar uma resposta, há muitas semelhanças não só com esse jogo, como em todas as aventuras de plataformas 3D de Mario desde a Nintendo 64! Das imensas surpresas que surgem em cada nível, muitas referências à nossa espera ao virar da “esquina” que nos levam a querer explorar os níveis fio a pavio. Por várias vezes pensei “só mais um bocado”, bocados esses que se estenderam por horas só porque queria ir buscar mais um fóssil ou uma banana, pois encontrando mapas do tesouro o jogo indica-nos onde encontrar tudo e mais alguma coisa, perfeito para ser mais fácil concluir cada nível a 100%.

Encontrava sempre coisas que me motivaram a essa exploração, pontos no mapa que não descansei até encontrar o caminho certo, momentos nos níveis que me forçava a quebrar barreiras de materiais mais duros que o próprio aço, para depois perceber que não estava a ver a solução para o problema. Muitos momentos a andar em mine carts (oh tantos momentos a andar nestas vagonetas), onde o jogo se tornava numa espécie de shooter em que tínhamos de apanhar os mais diversos materiais para enfrentar os inimigos que nos barravam caminho. Aliás, muito do jogo envolveu pegar em pedaços do chão (ou paredes, ou materiais perigosamente explosivos) para atacar os mais variados inimigos, ou criar plataformas para conseguir chegar ao destino. Demorei a dar o clique de surfar nas pedras e, depois de usar e abusar deste poder, questionei-me porque é que não o havia feito mais cedo.


Acontece que, em muitas das minhas demandas níveis fora, a minha distração era tanta por encontrar níveis secretos ou passagens que me levavam a explorar novas partes dos níveis, quando eu pensava já ter visto tudo. Estes níveis secretos lembraram-me muito das missões que tivemos em Super Mario Galaxy ou também Super Mario 3D World, com um desafio bem traçado, desde lutas contra inimigos, resolver enigmas ou lutar contra o tempo, com segredos bem escondidos até nestes pequenos níveis especiais. Pelo meio surgiam breves momentos à Donkey Kong Country com muito “ouro” a apanhar, entre outros que foram dos meus favoritos, onde o jogo se transforma num clássico de plataformas em 2D tal como as aventuras de DK (e companhia) na Super Nintendo. Por muito que gostasse de ver mais níveis destes, eles não foram escassos, que acompanham bem outros momentos no jogo que vão além de um simples jogo de plataformas. Momentos que me lembraram dos inícios dos jogos 3D em que se explorava muita coisa, trazendo consigo muita nostalgia em mim.

Tudo coisas para me divertir, como se estivesse a entrar num parque de diversões onde era livre de fazer o que me dava na real gana, enquanto era recompensado ao cumprir objetivos. Recompensas essas importantes para a aventura, pois era ao apanhar bananas que conseguia obter pontos para desbloquear ou melhorar as habilidades de DK, desde surfar nas pedras como já referi, como aumentar a sua força ou ter mais pontos de vida. De resto, tudo o que é fóssil funciona como uma espécie de moeda para desbloquear fatos para DK e Pauline que não são puramente estéticos, pois cada roupa tem atributos associados que nos ajudam a enfrentar diferentes desafios. Dei por mim a dar prioridade a habilidades que ajudam destruir o cenário, que o jogo teve uma espécie de efeito terapêutico em mim por poder destruir o cenário “todo”, tendo momentos em que não descansei até ter limpo áreas inteiras nos níveis, sem dar conta do tempo passar. O que é verdadeiramente estético são as cores de pelo de DK, que vamos comprando e parece um gasto inútil, mas há ali cores brutais que quis logo usar (esperando agora que sejam cores alternativas para DK num próximo Smash Bros.)!


Como disse anteriormente este não é um jogo desafiante, não senti grande dificuldade em enfrentar os muitos bosses que me apareciam à frente, isto pelo menos no início da aventura. O desafio surge mais à frente, quando o jogo decidiu que já não precisava de apoio e colocava-me à frente níveis e bosses que me fizeram suar, reclamar e causar alguns momentos de frustração, mesmo quando já sabia o que fazer. Não existem vidas, cada game over retira-nos Banândio, um recurso que temos em vasta quantidade e de pouca utilidade, só que muitas vezes ao perder voltávamos atrás um pouco, tal e qual como os jogos de plataformas antigos nos habituaram. Honestamente? Gostava que este grau de dificuldade fosse colocado mais cedo, mas é curioso que hajam momentos bem lixados a fazerem parte da história principal e não reservados para níveis secretos, opcionais ou depois da conclusão do jogo, como é habitual encontrar nos jogos de plataformas.

Tal como a exploração do mundo do jogo é feita por camadas, a diversão dele também surge assim aos poucos, à medida que DK vai recebendo novas transformações Bananza! Com elas podemos navegar mais facilmente pelo jogo, seja a destruir o cenário com a transformação Bananza Kong, correr sem parar (e até mesmo pela água) com Bananza Zebra ou planar pelos céus com Bananza Avestruz, chegando a partes dos níveis praticamente impossíveis de chegar doutro modo. São transformações que também têm as suas habilidades a obter, melhorar e abusar, mesmo havendo um tempo limite para a sua utilização, enquanto ia destruindo o cenário transformado, recuperava energia para manter esta forma especial ativa. E, claro, o jogo oferece imensos momentos para explorar estas transformações, com alguns momentos que me fizeram questionar qual a melhor forma para resolver determinados desafios, com outros que me obrigavam a alternar entre transformações a tempo recorde.


Se há algo em que o jogo se destacou foi a divertir-me, desde os momentos em que começava a observar a Ilha Lingote com os olhos apaixonados de DK (com bananas), aos combates épicos e memoráveis contra vários bosses como qualquer jogo de plataformas memorável consegue fazer. O trio que compõe a Void Company, juntamente com os seus lacaios que nos barram o caminho mantém-se incrível do início ao fim do jogo, re-acendendo em mim momentos que me lembraram de Donkey Kong 64 (talvez muito pelo design das personagens), até mesmo nos combates contra os bosses que me fizeram viajar aos jogos do género nos anos 90, onde em pequenas arenas nos desviamos da multitude de ataques à procura de um espaço seguro e do momento certo para contra-atacar. Houve combates onde o caos reinava, alguns deles com tanta coisa a acontecer ao mesmo tempo que o jogo tinha quebras de fluidez, algo que até foi referido pela equipa de desenvolvimento, em que gostaria que fosse polido havendo essa oportunidade.

Não olhando para o jogo como “o próximo Super Mario Odyssey”, as minhas expectativas eram de encontrar aqui a próxima grande aventura no género de plataformas da Nintendo, Donkey Kong Bananza cumpriu em muito as minhas expectativas, superando-as até em alguns momentos. Bosses e níveis épicos, momentos na história que me fizeram sentir aquelas personagens, numa aventura que agora os pais que cresceram com o género de plataformas na sua infância ou adolescência, poderão agora fazê-lo com os seus filhos, principalmente a jogarem em modo cooperativo. Gostei imenso que não tentaram que este fosse "o novo jogo de Mario" e exploraram DK como uma personagem com um potencial incrível, deixando-me a querer mais aventuras deste género com ele. A força de DK foi um gimmick, por assim dizer, e tal refletiu-se neste jogo.

Aqui entra um toque curioso, notório durante a aventura, mesmo sem foco ou destaque. A relação entre DK e Pauline vai crescendo subtilmente à medida que avançamos no jogo, onde DK assume um papel mais protetor para Pauline e, esta, mostra-se sempre ansiosa e aventureira. É uma relação ao estilo pai e filha, mesmo sem as grandes sequências de animação que esperamos de jogos com um foco maior na narrativa, o que não é o caso aqui. Aos poucos Pauline vai-se abrindo com DK, contando um pouco mais da sua história, os seus medos e como os quer ultrapassar. Não, não é nenhuma história de pai e filha como encontramos em The Last of Us, mas, o sentimento está lá.


Termino com uma nota: os fãs de jogos de plataformas têm aqui um jogo obrigatório e, se forem também fãs de Donkey Kong, vão adorar tudo o que é surpresa que o jogo tem à vossa espera! É um regresso à década de 90 e aos jogos de plataformas de então, com todos os desafios e surpresas que daí surgiam, oferecendo ainda um belo sucessor de Donkey Kong, 64 há muito pedido pelos fãs. É o jogo perfeito para os meses de lançamento da Nintendo Switch 2, que, se não foi Mario Kart World que vos puxou para a consola, talvez seja este Donkey Kong Bananza!


Nota: Análise efetuada com base em código final do jogo para a Nintendo Switch 2, gentilmente cedido pela Nintendo.

"Ao Telmo, que muitas saudades deixa, que sei o quão excitado ficava sempre que era lançado um novo jogo de plataformas da Nintendo. Dos dias a contar até ao lançamento de Super Mario Galaxy, as longas sessões de New Super Mario Bros DS., à vez que jogamos Super Mario Wonder, a nossa última sessão de jogo. Este seria mais uma aventura que iríamos passar horas a jogar, a falar das descobertas e das surpresas."

– Nuno, 2025

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