Hollow Knight: Silksong

O estúdio independente australiano Team Cherry, responsável pelo fenómeno Hollow Knight que conquistou o olimpo dos videojogos em 2017 e que até nos dias de hoje serve de bitola para tudo o que é metroidvania moderno, voltou à carga com Hollow Knight: Silksong. Uma sequela muito aguardada que teve um período de gestação enorme e que levou os fãs ao desespero e pior ainda (e também hilariante) a memes a serem criados. Foi 8 anos de muito desespero e de muitos memes, mas a verdade é que no dia 4 de setembro, a espera acabou.

Em Silksong, o palco principal pertence a Hornet, uma caçadora muito ágil e letal que tinha tido um cariz mais secundário, mas importante em Hollow Knight. Ela é capturada e levada para o reino de Pharloom onde acorda num novo mundo onde tudo lhe é estranho, mas não desconhecido. Rapidamente, e à medida que vai passando pelas várias regiões deste reino, vai-se apercebendo que poucas das criaturas que lá vivem são amigáveis e muitas vivem sob o efeito da “Haunting”, uma maldição que as sujeita a uma espécie de controlo de mente coletivo ligado a uma espécie superior e controladora de seda.

A narrativa, na sua génese, segue mais ou menos as mesmas pisadas de Hollow Knight; pouco sabemos e tudo o que vamos descobrindo acontece à medida que avançamos por este mundo. Aqui a diferença é que Hornet fala e tem diálogos com os NPC’s que vai encontrando, estabelecendo relações, afinidades e dá a conhecer ao jogador a sua personalidade, algo que não acontecia no jogo anterior onde a sua personagem principal não falava. Hornet tem uma presença mais definida que o seu antecessor; reage, questiona, sente e isso traz uma dimensão emocional que o jogo anterior nunca explorou, pelo menos da mesma maneira.

E não é só a protagonista principal que é diferente, o próprio desenrolar da narrativa mostra-se mais direto na sua abordagem, menos focado no prolongar do mistério, mais a favor de mostrar as consequências das acções de Hornet neste mundo e de fazer desaparecer a cortina de fumo muito mais cedo que o seu antecessor.

Pharloom é muito diferente de Hallownest. Em 2017 descobrimos uma terra que há muito tinha sucumbido à decadência, daí ser um jogo com uma paleta de cores e ambiente mais sombrio e melancólico, algo que não acontece em Pharloom que é mais colorido, diverso, mais vibrante e movimentado. É naquele preciso momento que tudo está a acontecer e a erosão que o tempo traz não se faz sentir ainda.

Cada zona tem traços distintos na sua fauna e flora, mas coerente numa direção artística que reforça a atmosfera que nos rodeia e representa na perfeição a sensação de estarmos num mundo vivo.

Essa vivacidade é reforçada pela dinâmica que Hornet e Pharloom têm um com o outro. Hornet é rápida, fluida e agressiva nos seus movimentos e Pharloom contribui muito para enaltecer as características da protagonista principal. Muito vertical, cheio de obstáculos e inimigos, deixando para trás a contemplação que acompanhava a exploração em Hollownest.

Atravessar as várias regiões em Silksong não é apenas ir de A a B sem atrito, implica estar constantemente a ultrapassar ínfimos obstáculos ambientais, a ser perspicaz e calcular muito mais (e depressa!) cada passo que damos. É mais letal, menos permissivo a erros e muito mais cinético, pois a sensação de estar sempre em combate existe e é uma realidade a que depressa o jogador tem de se habituar. Mas sobre as dificuldades e desafios de Silksong falaremos mais à frente.

Toda esta construção de mundo mantém a imagem de marca que a Team Cherry mostrou ao planeta terra em 2017. A mestria do uso do efeito parallax é reforçada e apresenta um resultado final ainda mais elaborado, mais detalhado e que confere ainda mais profundidade a Pharloom, sempre acompanhado pelo polvilhar do sistema de partículas que embeleza o ecrã e que se mistura de forma brilhante com o desenho 2D acartonado desta franquia. Algo também melhorado são os efeitos visuais dos movimentos, as transições e combate de Hornet que estão em perfeita sintonia com o input que damos à personagem enaltecendo o impacto e feedback das nossas ações.

A componente sonora continua no mesmo patamar de excelência a que a Team Cherry nos habituou. A banda sonora criada novamente por Christopher Larkin imiscua-se na perfeição com o ambiente de cada região deste mundo. A bitola continua alta neste campo e ainda mais no que toca à paisagem sonora que é oferecida através dos pequenos detalhes auditivos que fazem com que a envolvência seja ainda maior.

Se nível artístico nada mudou em termos de benchmark de qualidade, a nível de "upgrades" a coisa mudou e muito. Os "Charms" de Hollow Knight deram lugar aos "Crests". As escolhas dos "Charms" implicavam sacrificar outros e a flexibilidade vinha de experimentar combinações, mas os movimentos da personagem permaneciam inalteráveis.

Isso muda em Silksong com a introdução de "Crests", seis no total, cada um com os seus próprios movimentos, golpes e buffs. Todos trazem valências mas também desvantagens, conforme a preferência ou habilidade quer do jogador, quer do obstáculo que tenhamos pela frente.

Chegou o momento de falar daquilo que mais tem sido falado sobre Silksong. Um drama que tem vários nomes; uns chamam-lhe desafio, outros dificuldade mas semânticas à parte a verdade é que este jogo é para malta que não vacila e quem vacila, tem de aprender a não o fazer se quiser jogar este jogo até ao fim.

Muita coisa é exigida ao jogador, muitas delas estão inerentes à natureza mais "dark souls" que esta sequela apresenta mas a mais importante é a paciência. Silksong requer que o jogador seja paciente! Não paciente no sentido de estar à espera do dia de amanhã, falo de esperar pelo momento certo, aprender os maneirismos dos bosses, estar disponível para assimilar e entender os movimentos da Hornet e a sua simbiose com o mundo que a rodeia.

Torna-se claro desde as primeiras horas de jogo que dominar o "pogo jump" em Silksong é muito mais imperativo que no primeiro jogo pois a sua utilização é muito mais solicitada. Pharloom oferece oportunidades para treinarmos essa habilidade e isso é justo para o jogador. Existem caminhos que se podem fazer e que evitam dificuldades de maior na transição do acto 1 para o 2, basta explorar. A maioria dos bosses tem maneirismos bem definidos que requerem apenas repetição para os poder derrotar. O aumento de poder, compra de itens e aquisição de habilidades vai facilitando a vida à medida que vamos passando tempo com o jogo.

Mas este desafio proposto pela Team Cherry não está isento de exageros. Existem requintes de malvadez que se espalham por Pharloom e muitos deles de cariz obrigatório e que na minha opinião poderiam ser evitados e não seria por aí que o jogo ficaria menos desafiante; duas máscaras de vida por cada vez que aterramos em espinhos ou obstáculos ambientais similares é absolutamente despropositado, existem um par de arenas no acto 2 do jogo que estão lá apenas e só por sadismo, não tendo à nossa disposição a habilidade de double jump desbloqueada, qualquer boss com uma hitbox gigante que varra rapidamente um lado ao outro da arena é o equivalente a passar ali umas boas horas à procura da sorte. Isto para mim não é desafio, é dificuldade artificial que não acrescenta nada de substancial a Silksong neste capitulo em especifico. 

A opção de abusar nas "fetch quests" para desbloquear o acto 3 depois de dezenas de horas de levar com Pharloom na cara é o que eu chamo de "festa do elástico". É a esticar até partir! Mas pelo menos é opcional...

Obviamente que é um tema fraturante, deixo aqui a minha opinião, sujeita ou não a concordância e mediante as sensibilidades de cada um.

Silksong é, definitivamente, uma obra-prima! Um passo em frente em relação ao seu antecessor, também ele, nesse patamar de excelência.

Uma experiência memorável, desafiante e recompensadora com um grande investimento em termos de mecânicas mais robustas, aposta em mobilidade mais fluida, construção de mundo densa e numa narrativa que respeita o mistério sem abdicar de dar voz à protagonista.

É um metroidvania com identidade, beleza visual e sonora, combate que recompensa a mestria e um mundo que convida a uma exploração mais proactiva e cinética mas que exige paciência e persistência da parte dos jogadores.

Nem tudo é perfeito e muito por culpa da dificuldade artificial, a espaços, proposta pela Team Cherry e das "fetch quests" que povoam a verdadeira e derradeira fase final de Silksong mas nada que manche a experiência global neste manto de seda pristino cheio de diversão e desafio.

Hollow Knight: Silksong saiu no dia 4 de setembro de 2025 para PS5, PS4, Xbox Series X|S, Xbox One, Switch 2, Switch, PC e está também incluído no Xbox Game Pass (PC e Ultimate).

Nota: Análise efetuada com base num código final do jogo para PC, adquirido via Xbox Game Pass.

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