Ys VIII: Lacrimosa of Dana


Estava a começar a jogar Xenoblade Chronicles 2 quando me deram este Ys VIII para as mãos. Não estranhem se comparar os dois jogos, mas até pode ajudar.

Embora! Ys VIII: Lacrimosa of Dana não é só um JRPG com palavras aleatórias, é também uma série de 1987 (excelente colheita) com várias entradas em todas as consolas e mais algumas. Começou pelo Ys I: Ancient Ys Vanished e cá estamos no VIII, em 2018. O que mais me faltava era começar uma série nova e o que ainda mais me faltava era gostar de uma série de RPG nova! Agora só penso que tenho de jogar os outros, mas prende-se a questão, vou às plataformas originais ou espero que saiam na Switch? Talvez se as vendas forem satisfatórias tenhamos mais Ys, mas se o jogo não for grande espingarda com o que ficamos? Um port tosco e perdido.

Resposta curta: Ys VIII é um jogo muito bom. Vamos à resposta longa.


Até chegar às minhas mãos, o progresso deste VIII causou alguma vergonha alheia desde ports tristes no PC à péssima, horrível localização do jogo. Estou a falar de erros ortográficos, de gramática, frases a terminar a meio, conteúdo por traduzir ou caracteres japoneses esquecidos. A localização era feita pela XSEED, mas mudaram para a NIS America, portanto algum espião amuado aprovou um guião defeituoso e foi a festa. Foi preciso o Presidente da NIS pedir desculpas, reescreverem o guião e gravarem novas vozes num update para a coisa ficar bonita. Não se preocupem, eu não vi nada de mal! E ainda vamos ter as vozes japonesas em breve. Não que vá mudar porque já me habituei, mas é bom ter a opção e o nosso Adol é um protagonista silencioso, com algumas opções de diálogo.

Deixei o Xenoblade no capítulo 4 para começar o Ys e estou a gostar das diferenças. É tão bom ter uma história que não envolve um mundo em destruição e um herói para o salvar. Ys VIII é apenas uma de muitas aventuras do jovem Adol e só por aí ganha uns pontitos no meu livro. Começamos no navio Lombardia, onde conhecemos os passageiros a bordo. Mais tarde, naufragamos na ilha de Seiren e é aí que a aventura começa. Há toda uma aura de Lost ao longo dos seis capítulos: a ilha, o mistério da ilha e os sobreviventes. Grande parte do jogo passa por salvá-los, proteger o acampamento e tentar escapar, mas esta sopa tem mais ingredientes. À noite, enquanto dorme, Adol sonha com Dana, uma rapariga misteriosa, e obtém informações úteis que o ajudam durante o dia. À medida que o jogo avança, os destinos das duas personagens aproximam-se, mas as perguntas multiplicam-se: será que aconteceu, onde aconteceu, quando aconteceu? Além disso, a ilha é habitada por criaturas que lembram dinossauros, os perigosos Primordials. Além de Lost, há vibes gostosas de Lost World.


Quando não estamos a correr pela ilha, estamos a trazer pessoas para o acampamento. E cada pessoa contribui à sua maneira. Temos cozinheiros, artesãos, médicos, estrategas, etc e todos querem ajudar. O bom destes serviços é que não precisamos de dinheiro para os pagar. Quer dizer, onde vamos buscar o dinheiro? Os monstros largam quando são derrotados? Não me façam rir. Apanhem tudo o que conseguirem e troquem à moda antiga. Às tantas, cada sobrevivente tem a sua missão que serve como sidequest. Fazê-las não é obrigatório, mas aumenta a reputação e a qualidade dos itens disponíveis, estatísticas das personagens principais, etc. Tudo tem o seu propósito e pouco é secundário, mas se o jogo enche chouriços é no back tracking.

Estamos sempre de um lado para o outro, a orientação não é das melhores coisas no jogo e os inimigos fazem respawn. Se há uma coisa boa nisto tudo é que o combate é rápido e não há interrupções, caso contrário seria uma valente seca e desmotivador explorar. O ligeiro grind por níveis e recursos é apenas uma das vantagens, desbloquear pontos de fast travel ou pontos de referência são outras vantagens. Acontece o caminho estar bloqueado por rochas, troncos ou desabamentos, mas basta cumprir os requisitos de desbloqueio que o acampamento vem em grupo ajudar a limpar. Sente-se que há progresso e isso também é recompensa. Além de RPG, não consigo deixar de pensar em The Legend of Zelda no que toca à progressão e exploração. No final de cada masmorra há o típico boss que deixa um item para trás que permite aceder a outras masmorras ou a caminhos outrora inacessíveis.

E se nos ajudam, nós retribuímos. Quando o acampamento é atacado por monstros, nós temos de ir a correr e derrotar turnos de monstros e bosses. Quando não nos atacam, somos nós a caçá-los. E nas pausas disto, podemos reforçar as defesas do acampamento.


Já estamos no combate? Já estamos no combate. E aqui é difícil evitar as comparações ao Xenoblade. Já ouvi queixas ao combate deste e eu justifico e explico que é a norma da série. É parado, mas requer alguma estratégia no posicionamento das personagens e ataques, mas admito que às vezes é aborrecido. Já o combate de Ys é rápido e frenético: um botão ataca e podem saltar para atacar no ar. As habilidades são adicionadas aos botões A, B, X e Y e estas aumentam de nível à medida que são utilizadas. Escolham bem as que querem e passem o jogo a correr. Com os gatilhos, e bem cronometrados, podem desviar-se e abrandar o tempo ou parar golpes, deixando o inimigo aberto a criticals. Não é muito difícil, mas se quiserem um desafio, aumentem a dificuldade.
Cada personagem tem a sua vantagem sobre um tipo específico de inimigo, portanto rodem de protagonista quando quiserem. Para mim, o único ponto menos bom é estar sempre a interromper o jogo para ir ao menu principal usar itens ou tirar alguma personagem da equipa. De resto, não há muito que saber. É um sistema de combate simples e bastante eficaz.

Algo que me deixa um sabor estranho na boca: com 31 anos, há algo que já não tenho paciência. Não é o grind, não é o back tracking, é a roupa das personagens femininas. Nossa Senhora. Os homens têm as roupas mais estilosas de sempre, capas, cachecóis, chapéus, seja, mas as mulheres se tiverem calções já é muito! Nem as roupas do DLC serviram para alguma coisa. Se a coisa tinha piada antes da puberdade, agora é só triste e é uma “japonesice” que devia ter acabado em 2018. De resto, já sei o que a casa gasta. Os visuais à anime deste Ys (ou do Xenoblade) não me incomodam e gosto. Não são uau nem dignos de nota, mas cumprem o seu dever e prefiro assim a gráficos hiper mega realistas que atrasam os jogos até ao infinito. Dêem-me isto, dêem-me uma boa história e sou uma criança feliz. E estou a ter isso aqui! Mais, em modo portátil, as cores vibrantes são um mimo! E se ao investigar a série só li coisas boas da banda sonora, não fiquei desiludido. Os compositores de Ys roçam o génio e não há uma música que não me esteja da memória. Há peças que quando começam dão aquela pujança ou sensação de uma aventura épica e é isso que este jogo é: uma grande aventura. Felizmente, mais uma aventura para o Adol, Dogi e companhia.


Os problemas do port para PC não existem aqui, mas reparei em algumas quebras de frames, mas nada que estrague a experiência. Se rodarem o mapa e virem inimigos ao longe parecem recortes de papel com movimentos robotóticos até se aproximarem.

E posso jogar a oitava entrada da série sem ter jogado os anteriores? Claro! A única coisa recorrente é a personagem principal, de resto, as histórias são independentes como as de Final Fantasy. E se comecei a jogar Final Fantasy pelo VIII, começar Ys pelo mesmo número é um sinal dos deuses. Sinal que tenho de jogar todos. Sinal de que a Nihon Falcom tem de lançar tudo na Switch! Ah, já agora, a série The Legend of Heroes.

Nota: esta análise foi efetuada com base em código final do jogo para a Nintendo Switch, gentilmente cedido pela NIS America.

Latest in Sports