A Normal Lost Phone / Another Lost Phone: Laura's Story

Achei por melhor analisar estes dois jogos juntos porque são praticamente iguais, excepto a história. Um aviso antes de avançarem, há quem possa dizer que não são jogos na medida que os jogos da Quantic Dream não o são. Se tiver de colar uma etiqueta diria que são experiências interactivas. Experiências intrusivas que jogam com a privacidade alheia.

Podem sentir desconforto, mas eu gostei. Eu sou anormal, não sigam o meu exemplo, mas devorei os dois numa hora. São rápidos e pelo preço de um menu no McDonald’s valem bem a pena. E, vá, admito que usei um guia para resolver os puzzles. Não quis frustrar-me ou desistir a meio. O jogo não merecia isso, mas façam as coisas bem e não como eu.

Acredito que numa interface de telemóvel seja melhor mas, como estamos a ler uma análise da versão para a Nintendo Switch, aguentem-se. Jogam-se bem e recomendo jogarem em modo portátil; o primeiro (ANLP) dá para jogar com o ecrã na horizontal ou na vertical como se fosse um smartphone; o segundo (ANLP: LS) tem o modo vertical e um modo estranho onde apontamos para o ecrã com o Joy-Con direito. Não recomendo porque vão ter de andar com o braço no ar muito tempo, mas se jogarem como se fosse um telemóvel sentir-se-ão confortáveis a fazer scroll up e down pelas mensagens.

Raios para os jogos com a mania de serem inventivos. Adorei a interacção e sentir-me um stalker foi uma experiência que nenhum jogo conseguiu até agora. A maneira como a história se ia revelando a conta-gotas e o slice of life das personagens era uma janela para imensas histórias em potencial que podiam ser as nossas.

O jogo emulava um telemóvel quase na perfeição: tinha as apps de mensagens, mail, browser, definições, etc. E era a aceder às mesmas que íamos jogando. Deixo outro aviso, o jogo é só texto. Se isso for um ponto negativo então passem à frente. Não há tiros, magia e elementos cliché nos jogos. Também faz falta algo assim para desenjoar.


E agora que podemos avançar dos aspectos técnicos, vamos àquilo que justificará o preço: a história.

A Accidental Queens, um estúdio francês, quis focar-se em assuntos reais. E isto é uma maneira bonita de dizer que os jogos têm uma agenda. Isto diz-se em português? Ambos têm uma mensagem e um serviço público que não poderei avançar muito ou estrago a revelação. Irei ser o mais vago possível. No primeiro (ANLP) somos um rapaz chamado Sam que tem de lidar com uns problemas e família. A história não foi bem conseguida e tem algumas lacunas. A personalidade da personagem principal é inexistente e o que o aflige passa a defini-lo como token, como uma bandeira enorme a gritar: ei, sou isto, OK? Não há uma empatia ou uma preocupação. Eu queria ser mais explícito, mas vou dizer de outra maneira: as personagens de Life is Strange (jogo base e prequela) têm personalidades melhores construídas e são definidas por várias coisas, não só pelo o Sam sente. O jogo é bastante intrusivo e roça o perigoso, mas são vocês o que decidem fazer com o telemóvel dele.

O segundo jogo (ANLP: LS) acabou por ter uma história criada com mais cuidado e mais desenvolvida. A personagem principal, a Laura, tem uma existência pré e pós jogo, um leque de boas personagens secundárias e um antagonista tão normal que pode ser nosso vizinho ou familiar. Este jogo deixou-me mais satisfeito e preocupado porque eu conheci pessoas na situação da Laura. Mexeu comigo e é bom quando os jogos o conseguem. Não se limitam só a entreter.
Claro que há uma batota para acabarem o jogo mais rápido: vão às definições, memória e apagam tudo do telemóvel. Fim.


No fundo estes jogos jogam-se como se estivessem a ler um livro ao som da banda sonora (app de Música) indie. Não fosse a natureza das história e diria que a experiência foi agradável. Gostei mais na inovação e da manipulação da experiência de jogo do que outra coisa, mas o facto de serem bastante reais contribuiu para um melhor relacionamento; para sentir que estes jogos pudessem pertencer ao género do Terror.


Nota: Esta análise foi efetuada com base em código final dos jogos para a Nintendo Switch, tendo o "Another Lost Phone: Laura's Story" sido gentilmente cedido pela Plug In Digital.

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