Nintendo Switch


Após meses de secretismo, a nova consola da Nintendo teve um ciclo de lançamento pouco convencional, sendo revelada em novembro passado, formalmente anunciada em janeiro e será lançada já esta semana a 3 de março de 2017. Tem sido surpresa atrás de surpresa, revelação atrás de revelação após o que pareceu um período interminável de especulação. Afinal, a dois dias da data de lançamento e com uma unidade de análise na redação, ainda há muitas coisas que não sabemos acerca da Nintendo Switch! Mas comecemos por aquilo que já sabemos.

A Nintendo Switch é uma consola que desafia as categorias convencionais do hardware dedicado a videojogos. Será uma consola doméstica? Será uma portátil? Na realidade é as duas coisas ao mesmo tempo, podendo ser configurada em três modos diferentes: Modo TV, Modo Estável e Modo Portátil. No primeiro, temos a configuração de uma consola tradicional ligada à televisão, sem grandes particularidades. No modo estável, deixamos de precisar da TV, podendo usar-se o ecrã da consola pousado em qualquer superfície graças ao kickstand que se encontra na parte traseira da Switch. Já no modo portátil, temos realmente uma consola portátil que podemos levar connosco para jogar em qualquer lado. Pode dizer-se que é uma consola que veio derrubar barreiras e por isso dispensa os rótulos.

A transição entre modos é possível graças aos novos comandos Joy-Con. Estes podem ser acoplados à consola para jogar no modo portátil e destacados para jogar nos modos TV e estável. Podem servir como um só comando com um suporte de plástico ou como dois pequenos comandos para um ou dois jogadores. Estão carregados de sensores e introduzem uma nova tecnologia de "vibração HD". Mas como será, então, a experiência de jogo na Nintendo Switch?


Tirando a consola da caixa, temos um processo de configuração inicial bastante simples. Basta ligar a consola e escolher um idioma, encaixar os comandos Joy-Con, criar uma conta de utilizador e ligar a base à TV. Em poucos cliques vamos parar ao menu principal da consola e, após inserir um cartão de jogo, estamos prontos a jogar. O carregamento dos jogos a partir do menu principal demora poucos segundos, mas sair do jogo para o menu e regressar (sem fechar a aplicação) é instantâneo. Há ainda um menu rápido, que se acede ao manter premido o botão Home, que permite colocar a consola em modo descanso quando ligada à TV e ajustar algumas definições quando está nos modos estável e portátil, como o brilho do ecrã ou ativar o modo avião.

A consola guarda no menu uma entrada para todos os jogos que tenham lá sido utilizados, mesmo que o cartão de jogo não esteja presente. Isto permite aceder a algumas opções como instalar uma atualização sem se precisar de ter o cartão à mão. Naturalmente também será possível eliminar o registo em questão. Outra funcionalidade interessante é a das contas dos jogadores, que podem ser vinculadas a uma conta Nintendo e que fazem a gestão das gravações dos jogos. Ao sair de uma aplicação, o menu principal indica qual o utilizador que está a jogar e permite facilmente trocar de jogador. Resumidamente, não é necessário fazer login e logout da consola, basta trocar de perfil.

O sistema operativo é bastante rápido e simples, dando um grande destaque aos jogos. Mesmo a funcionalidade de tirar screenshots dos jogos com o botão de captura é instantânea, guardando as nossas capturas num álbum de fotos a partir do qual as podemos editar e partilhar nas redes sociais ou copiar para o cartão microSD. Aí vêm os álbuns de fotos de jogos da Nintendo Switch! Nota: no futuro, este botão deverá também permitir a captura de vídeos de jogabilidade.


A Nintendo Switch é uma consola que nunca desliga. Ou seja, desliga, mas foi desenhada para estar sempre ligada e tirar partido do modo de descanso ("Sleep"). Mesmo quando se joga no modo portátil e a bateria fica quase descarregada, a consola entra automaticamente neste modo, que é extremamente eficaz na poupança de bateria. Deixar a consola neste modo durante horas a fio não representa qualquer perda significativa de bateria. Um bom exemplo disso foi jogar na portátil até que esta atingisse o mínimo de bateria para entrar automaticamente em descanso e deixá-la ficar assim durante a noite. No dia seguinte, ao colocar a consola na base para jogar na TV, foram meros instantes para estar de volta ao jogo no mesmo ponto em que o deixei.

A mobilidade da consola é um dos seus factores mais importantes e a gestão da bateria foi realmente tida em conta para optimizar a experiência. Segundo a Nintendo, a autonomia em modo portátil poderá variar entre as 2,5 e as 6 horas conforme os jogos, tendo prometido 3h de autonomia com o jogo Legend of Zelda Breath of the Wild. Na minha experiência com o jogo têm-se cumprido perfeitamente as 3h prometidas, mas não tive mais exemplos de software para comprovar os limites anunciados. Importante referir que a consola permite utilizar powerbanks e outros carregadores externos, desde que sejam compatíveis e tenham um cabo USB-C.

Já a autonomia dos Joy-Con, segundo a Nintendo, dura cerca de 20h, sendo que estes são carregados automaticamente pela consola. Nos meus testes de utilização nunca fiquei com a bateria dos comandos abaixo dos 50% apesar de ter feito várias sessões de jogo sem os carregar. Eventualmente será uma questão de os deixar acoplados à consola no final de uma sessão para os manter carregados sem qualquer preocupação, pelo que não se justifica para já a aquisição do Suporte de Carregamento para os Joy-Con (vendido em separado) a não ser que tencionem comprar um par adicional de comandos.
Os comandos são ultra leves e compactos, desenhados para se adaptar a qualquer situação. Seja enquanto comandos para o modo portátil ou comandos de movimentos, cumprem a sua função na perfeição. Para um formato mais convencional, a consola inclui um suporte de plástico onde estes podem ser encaixados e simular um comando tradicional. No entanto, da minha experiência, este suporte torna-se desconfortável em sessões muito longas de jogo, acabando por preferir jogar com os comandos separados, o que até permite jogar com uma postura mais confortável. Ainda assim, para este tipo de jogos propícios a longas sessões, recomendo a aquisição do Pro Controller (vendido em separado), cujo design é bastante mais robusto e confortável.

Outra funcionalidade dos Joy-Con é poderem ser utilizados como comandos individuais no modo horizontal, oferecendo um conjunto de botões equivalente ao comando da SNES mas com analógico. Devido ao seu tamanho e ao posicionamento dos botões em cada comando, esta experiência está longe de ser a melhor nas mãos, embora se tornem muito mais confortáveis com as correias que vêm incluídas na consola. Não sendo perfeita, é uma caraterística genial, pois significa que todas as consolas Nintendo Switch já trazem dois comandos perfeitamente funcionais para muitos dos jogos multijogador.

Durante as sessões de teste, encontrei um problema com o funcionamento dos Joy-Con, que se tornam menos responsivos a partir de uma certa distância da consola e acabando por perder a conexão a uma distância maior. Um problema que alguns jogadores poderão encontrar ao jogar em salas de maior dimensão. Contactei a Nintendo acerca desta questão, sabendo que outros jornalistas encontraram o mesmo problema e, como resposta, informaram-me que estão atualmente a investigar as causas do problema. Além da atualização "day one" com o lançamento da consola, que irá melhorar a sua estabilidade e experiência de utilização, a Nintendo irá continuar a lançar atualizações ao longo do ciclo de vida da consola.

Voltando à consola em si, transitar entre os seus diferentes modos é sempre uma experiência agradável. Tirar a consola da base e ver a imagem da TV passar para o ecrã da portátil é instantâneo, voltar a colocar demora pouco mais de um segundo, o tempo de fazer as ligações e a TV reconhecer o sinal - na prática, menos tempo do que aquilo que demoramos para regressar ao sofá. O ecrã tem uma imagem excelente considerando a sua resolução de 720p, com uma boa densidade de píxeis e cores vibrantes. Além disso, o ecrã tátil permite navegar pelos menus da consola, incluindo o teclado de sistema que pode ser chamado dentro dos jogos. Acaba por ser mais uma interface disponível para os jogos, embora tenha a restrição de não poder ser utilizada no modo TV.

O design de todo o sistema é bastante apelativo e a consola é bastante leve mas com aspecto sólido. Os Joy-Con, especialmente nas cores neon, dão-lhe um ar divertido e acessível que poderá apelar a um grande espectro de jogadores. Será de esperar uma vasta gama de cores para os comandos a aparecer mais tarde nas lojas. A consola é "sexy" e a sua versatilidade impressiona facilmente qualquer pessoa menos familiarizada com o mundo da tecnologia.

O grande problema da consola está naquilo que não se sabe. A falta de informação poderá afastar muitos jogadores de a comprar no dia de lançamento, até saberem exatamente como funciona o sistema de contas, a loja de conteúdos digitais e, principalmente, o serviço pago de multijogador online. É bastante estranho que, a dois dias do lançamento da consola, a Nintendo ainda não tenha mostrado sequer a interface da eShop onde estarão disponíveis vários jogos já no dia 3 de março.

De uma forma geral, a Nintendo Switch é um grande sistema com algumas arestas ainda por limar. A questão do alcance dos Joy-Con e principalmente a falta de conhecimento acerca de algumas funcionalidades são factores que podem deixar alguns jogadores à espera de saber mais. Embora os jogos de lançamento sejam em pequena quantidade, The Legend of Zelda: Breath of the Wild é um portento, capaz de justificar sozinho a compra da Nintendo Switch. Ainda assim, está prevista uma cadência interessante de títulos da Nintendo e também vários jogos indie que irão preencher muito bem a agenda dos jogadores até ao Natal. Para os fãs da Nintendo, é uma consola fantástica. Resta então saber de que forma irá capturar a imaginação de uma audiência mais alargada e, com isso, trazer por arrasto o sucesso dos jogos multiplataforma.



Atualização [02/03/2017]: Após a atualização "Day One" da consola e após reiniciá-la com os Joy-Con acoplados, o problema de estabilidade com os comandos aparenta ter ficado resolvido.

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