Senran Kagura Burst


Há muito tempo que não se via tão criticado o lançamento de um jogo, especialmente se falarmos de uma consola da Nintendo. Senran Kagura Burst, com as suas personagens femininas desenhadas de forma bastante provocadora, é o novo alvo de todas as críticas de sexismo na indústria dos videojogos. A capa do jogo não engana, nem os trailers e todas as ações promocionais: este é um jogo de raparigas com mamas (muito) grandes.

Sem quaisquer reservas, o jogo começa por dar precisamente aquilo que os jogadores compraram: uma overdose de mamas gigantes. Na primeira hora de jogo, encontra-se toda a "taradice" que se possa esperar de um título cuja capa é um close-up de um pergaminho guardado no decote de uma rapariga. É vulgar, de mau gosto e uma fórmula fácil, mas certeira para chamar a atenção. As expectativas cumprem-se, então, com piadas sobre as mamas das personagens, roupas que se estragam (com direito a sequência animada em close-up) durante o combate e um modo de vestiário que permite espreitar por baixo da saia, como se fosse mostrar algo que não se veja com a personagem em biquini. Mas será este jogo um pretexto para apreciar mamas, ou serão as mamas um pretexto para este jogo?


Deixemos, por momentos, esta questão de parte. Senran Kagura Burst é um slasher ao estilo de jogos como Streets of Rage, onde as personagens são raparigas aprendizes de shinobi. Ao todo há 12 personagens jogáveis, das quais duas só ficam disponíveis no final, distribuídas por duas escolas rivais. A academia Hanzō representa os chamados "good shinobi", que agem dentro da lei e protegem os desfavorecidos, enquanto que a rival academia clandestina Hebijo treina "evil shinobi" que muitas vezes servem os senhores do crime. O jogo oferece duas histórias paralelas, acompanhando a evolução de cada escola e a relação entre as personagens e as suas rivais.

Enquanto jogo de ação, o jogo oferece uma boa mecânica de base, com várias sequências de botões a desencadear combos frenéticos. Cada shinobi começa com a sua roupa da academia, até encher uma barra de "energia ninja" que lhe permite fazer a transformação em shinobi, com uma sequência ao estilo "Sailor Moon"onde a roupa desaparece, ficando em biquini, e magicamente surge a nova roupa de shinobi. Após a transformação, é possível usar ataques especiais mais fortes e ter acesso a uma maior cadeia de combos. Conforme se leva dano, a roupa vai-se rasgando, deixando a personagem mais vulnerável, mas também mais rápida. É ainda possível fazer as missões apenas em biquini, levando o dobro do dano, mas com ataques também mais fortes, estando prometida uma recompensa a quem assim completar todos os níveis.


A falta de variedade dos ataques de cada personagem é compensada na grande variedade entre as personagens, cada uma com a sua arma de eleição e um estilo de combate diferente. Para avançar na história, as missões obrigam a jogar com uma personagem pré-definida, o que faz com que naturalmente o jogador se habitue a todas as combatentes de igual forma e nunca jogue demasiadas vezes com a mesma. Uma forma de quebrar o cansaço numa mecânica que, de outra forma, seria demasiado repetitiva. Infelizmente, a baixa fluidez do jogo perturba um pouco a ação, com bastantes frame drops nas sequências mais intensas com muitos inimigos. Mesmo assim, continua a ser gratificante ver que no meio da confusão de efeitos o contador de combos já passou dos 3 dígitos e continua a subir.

Tendo isto em conta, já se poderia alegar que este é um jogo extremamente sexista por mostrar mulheres voluptuosas a combater umas com as outras. Mas é mesmo aqui que o jogo surpreende mais. Senran Kagura Burst, na verdade, é um conjunto de duas histórias sobre mulheres de armas, com personalidades distintas, com as suas forças e fraquezas e, especialmente, as suas inseguranças. É verdade que estão aqui todos os clichés, desde a rapariga confiante e motivada, à mais frágil e desastrada, passando pela rapariga mais sensível e aquela que não consegue sentir quaisquer emoções. Mas são mesmo esses clichés que servem de base para as suas histórias de crescimento e de superação, conseguido não só através da relação entre as colegas de academia, mas também com as suas rivais.


Um jogo que começa, então, por ser rotulado de uma certa maneira, acaba por nos mostrar o que está de errado nos rótulos. A maneira como estas personagens femininas são tratadas, pelo meio das piadas sobre as suas mamas, é muito mais séria do que se podia pensar. Uma das raparigas tem uma enorme insegurança com o seu corpo por ter as mamas pequenas, sentindo-se inferior em relação às colegas. Outra não esconde um grande amor pela companheira, mesmo que a outra a veja apenas como uma protectora. A própria rivalidade entre as "good" e "evil" shinobi faz com que todas percebam que o mundo não é a preto e branco, que as personagens "más" não têm de ser necessariamente más e que as personagens "boas" também cometem erros.


No final, Senran Kagura Burst demonstra ser um jogo bastante melhor do que os preconceitos dariam a entender. Não é apenas um jogo de nicho para "otakus" mais tarados, mas também um jogo com personagens femininas fortes e com uma evolução muito interessante, numa história que nos cativa até ao final. É uma pena que a componente de gameplay não tenha ido um pouco mais além em termos de movimentos das personagens, ou que não exista um modo de multijogador cooperativo. Mas é também uma pena que se julguem estas excelentes personagens apenas pelo seu aspecto físico. Como diria Jessica Rabbit, elas foram apenas desenhadas assim.

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