Fire Emblem: Awakening

Fire Emblem: Awakening é o mais recente título da saga que, há mais de 20 anos, deu origem no Japão ao conceito de RPG tático. Para quem não conhece, o conceito é uma espécie de jogo de xadrez, onde cada personagem é uma peça fundamental do tabuleiro. Em cada turno, o jogador tem de planear cuidadosamente o que fazer com cada um dos personagens disponíveis, não só de forma a atacar mas também proteger-se da próxima jogada do inimigo. É, por isso, um jogo bastante cerebral e que exige muita concentração, mas também uma experiência extremamente gratificante a cada batalha ganha.

Chrom, príncipe do Halidom of Ylisse, é também o capitão dos Shepherds, o exército que protege o reino. Está acompanhado pelo leal Frederick e a sua irmã Lissa quando encontra um misterioso personagem, inconsciente. Este é o avatar do jogador, cujo nome e aparência são definidos no momento em que se começa o jogo, embora tenha por defeito o nome Robin. Este é um mestre tático que irá mudar para sempre a vida de Chrom e do seu exército: compete a ele, o jogador, definir táticas brilhantes de combate que permitam enfrentar as situações mais delicadas e reduzir ao mínimo possível as perdas do exército. Esta aliança e, sobretudo, amizade, terá um impacto profundo no momento em que o reino vizinho decide declarar guerra.

Ao mesmo tempo, o surgimento de estranhas criaturas que espalham o terror por todo o continente é acompanhado por mais um misterioso personagem que dá pelo lendário nome de Marth e traz consigo algumas profecias aterradoras. Com o desenrolar de surpreendentes acontecimentos e reviravoltas, o que era a rotina de Chrom irá transformar-se numa épica aventura que se irá prolongar durante anos e estender a todo o continente. A história de Fire Emblem: Awakening começa com uma simples premissa mas, aos poucos, vai-se desvendando num rol de situações e emoções, desde os momentos de euforia às revelações chocantes, passando pela tragédia e o sentimento de perda que rodeia qualquer guerra. O enredo é comparável a épicos como Game of Thrones e promete causar uma mistura de sentimentos no jogador bastante equivalentes aos dos fãs dessa série, sejam de afecto ou de desprezo por certos personagens.

Todos os personagens são importantes, todos têm a sua própria história e todos despertam diferentes reações nos jogadores. Mas a principal diferença de Awakening para um livro ou série de fantasia está na liberdade que é dada ao jogador em estabelecer relações entre os personagens, decidir quais serão melhores amigos e quais se irão casar e até mesmo ter filhos que, numa fase mais avançada da história, se poderão juntar ao exército. Apesar do fio condutor principal da história ser sempre o mesmo, tudo o resto muda conforme as decisões do jogador: se um personagem importante morrer em batalha, irá desaparecer completamente da história, que se ajustará a essa realidade.

A morte é, por tradição, um ingrediente fundamental de Fire Emblem. Quando um personagem morre, não existe forma de voltar atrás com esse facto, a não ser reiniciar o jogo a partir do último ponto de gravação. Foi também este o principal elemento a dissuadir muitos jogadores de experimentarem a série, mas não será um problema em Awakening, graças à introdução do modo Newcomer. Ao inciar o jogo, é possível escolher entre os modos Classic e Newcomer, sendo que, neste último, os personagens regressam à vida no final das batalham em que tenham morrido, como acontece nos restantes jogos do género. Por outro lado, o modo Classic dá um desafio e intensidade brutais a toda a experiência, fazendo sentir na pele a consequência de uma má decisão ao perder um personagem para sempre. Além destes dois modos, existem três níveis de dificuldade (Normal, Hard e Lunatic) à escolha, havendo assim um desafio adequado a todos os tipos de jogadores.

Apesar da história ser bastante linear, o mapa do mundo permite viajar livremente entre os locais já visitados e aceder a outros opcionais onde existem algumas side-quests, que permitem recrutar novos personagens ou obter itens raros. Espalhados pelo mapa, encontram-se também algumas lojas que surgem aleatoriamente com diferentes itens a preços promocionais, inimigos também aleatórios que permitem jogar novos desafios em cenários já visitados, e ainda os personagens de outros jogadores encontrados por StreetPass ou outras equipas geradas pelo jogo. Enquanto os níveis relativos à progressão na história têm uma dificuldade que aumenta gradualmente, os desafios opcionais são bastante mais intensos, mas também permitem melhorar consideravelmente as capacidades do exército.

A jogabilidade é bastante simples e consiste apenas em deslocar os personagens no terreno e, a cada turno, atribuir-lhes uma acção, seja atacar, curar ou utilizar um item, por exemplo. As armas têm uma eficiência diferente conforme a do inimigo, sendo que as espadas são melhores contra inimigos que utilizam machados, lanças contra espadas e machados contra lanças. Além disso, há armas que são mais poderosas contra certo tipo de inimigos, como usar arco e flecha contra personagens alados, por exemplo. No terreno de batalha, é possível ver a área onde cada personagem se pode deslocar durante um turno, assim como as áreas de acção dos adversários e a zona de perigo onde é arriscado deixar um personagem desprotegido. Antes de se atacar algum adversário, o jogo apresenta uma antevisão do combate, que permite avaliar e repensar as decisões antes que estas se tornem irreversíveis.

Em cima disto, há todo um conjunto de estratégias centrais do jogo que mudam a dinâmica das batalhas, graças ao sistema de relacionamentos. Dois personagens que estejam lado a lado no terreno irão apoiar-se em combate, podendo até proteger o companheiro de um ataque ou dar um ataque adicional que pode ser o suficiente para eliminar o adversário. Deste apoio resulta um melhor relacionamento entre os dois personagens, criando-se um ciclo de proximidade na medida em que quanto melhor for a relação entre os dois, melhor será a sua ligação em combate. Dois personagens com um nível de relacionamento excelente podem tornar-se completamente implacáveis em batalha, o que incentiva o jogador a explorar diferentes combinações de pares aliados e melhorar as suas relações. Além disso, dois personagens de sexo oposto que atinjam o nível máximo de relacionamento irão casar-se e terão um filho que herda características dos pais e poderá mais tarde juntar-se à batalha.

Muito do fascínio de Fire Emblem: Awakening deve-se a esta interligação da história com a jogabilidade, mas toda a apresentação contribui para uma experiência fantástica. Os cenários das batalhas são bastante detalhados, com relevo e vários pormenores que tiram partido do efeito 3D da consola (exemplo: uma ave pode voar ocasionalmente por cima do cenário como se estivesse fora do ecrã), enquanto os personagens são representados por sprites 2D bastante carismáticos. Os combates são apresentados em 3D com uma câmara dinâmica que pode ser ajustada pelo jogador, num aparatoso visual que nunca se torna cansativo, o mesmo estilo gráfico que é utilizado para a maioria das sequências de história. Mas o mais impressionante de tudo são mesmo as sequências de animação em 3D, um espectáculo visual que faz desejar todo um filme de animação com a história do jogo.

A arte transpira por todos os poros deste jogo, desde o desenho dos personagens, à concepção dos cenários, já para não falar da fantástica banda sonora, que tanto sabe ser épica e imponente, nas sequências de história, como discreta e não-intrusiva durante batalhas que podem durar até uma hora, embora pareçam que duraram apenas 5 minutos. Mais do que a soma das suas partes, Awakening tem aquela "cola mágica" da Nintendo, que resultou aqui na perfeição para fazer um jogo brilhante. Além disso, a longevidade do jogo é impressionante e ultrapassa com facilidade as 50h de jogo, sem que nunca se torne uma experiência cansativa ou repetitiva – a cada nova batalha, é preciso usar uma nova abordagem, escolher cuidadosamente os personagens a utilizar, verificar o seu equipamento e planear uma estratégia... e graças ao modo que permite manter os personagens vivos, qualquer pessoa pode viver a experiência do jogo sem sentir o fardo da dificuldade que sempre assombrou a série Fire Emblem.

Como se tudo isto não bastasse, o jogo oferece ainda conteúdos adicionais gratuitos através do SpotPass, como novos itens, desafios e equipas de jogos anteriores da série para combater. Além disso, serão disponibilizados 25 episódios adicionais via DLC, que poderão ser comprados para expandir a aventura, sendo que cada episódio oferece um novo cenário e, geralmente, também um personagem clássico que pode ser adicionado ao exército na história principal, como por exemplo o Marth original do primeiro Fire Emblem, ou o também bastante popular Ike.


Fire Emblem: Awakening é o melhor jogo lançado para a Nintendo 3DS até hoje e um marco importante na história da consola, tal como o foram The World Ends With You ou Dragon Quest IX para a Nintendo DS – a 3DS é agora a consola de referência para os amantes de jogos de RPG e, principalmente, de histórias fortes, emocionantes e muito bem contadas. Um jogo de estratégia completamente viciante, uma história de coragem e valentia, recheada de traições, paixões e reviravoltas e um estilo artístico capaz de nos deslumbrar... apenas alguns dos ingredientes que fazem deste jogo um grande motivo para se comprar uma Nintendo 3DS.


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